AcroArte

Insatisfações sobre Instalações e Intervenções
Buscando com os grandes mestres um "Renascimento Contemporâneo"

terça-feira, 26 de abril de 2011

Isso é Arte???

"Arte é Arte ou é Merda"
(Portinari, apud E. Galeano em Espelhos)Augusto de Campos
“Pós-tudo, ex-tudo, nada”
Augusto de Campos (15/09/2005)
Uma artista inglesa expôs e vendeu a uma galeria, por 350 mil dólares, a cama onde ela passou a noite trepando e onde havia várias camisinhas usadas. Isso é arte?
O artista belga Win Delvoye enviou para a Bienal de Veneza uma lata contendo seu cocô. A obra foi denominada “Merda do artista”. No ano seguinte, ele industrializou o processo, criando, com um projeto de 200 mil dólares, uma engenhoca que fabrica merda, vendendo cada latinha dessa merda por 1.000 dólares. Em 2002 uma dessas latinhas foi comprada pela Tate Galery por quase um milhão de libras. Isso é cocô, quer dizer, isso é arte?
Vito Aconti, ex-marido de Marina Abramovic montou numa galeria uma instalação chamada Seedbed, que consistia em que ele ficasse sobre um estrado se masturbando durante oito horas por dia, durante duas semanas, dizendo em voz alta todas as fantasias que os assistentes lhe despertavam. Arte?
Haggens descobriu um método de plastificar os cadáveres e realizou algumas exposições com esses seres mortos que passaram por esse processo (pós-moderno) de mumificação. Aí havia gente com o ventre aberto, fetos, animais pela metade, enfim, aquilo que se chama de “museu de horrores”.
Na Feira Internacional de Arte Contemporânea, em Paris, em 1975, a performance de Herman Nitsch, patrocinada pela galeria Rodolf Stadler, consistia numa série de missas negras. Resultado: no dia seguinte ainda havia 2 cm de sangue sobre os 250 metros da galeria.
Marina Abramovic, em 1972, apresentou a obra Ritmo 0, que consistiu em ficar parada junto a uma mesa sobre a qual havia alguns objetos: uma arma, um machado, mel, tinta, perfume, baton, azeite, etc. Ela ficava ali exposta e à disposição dos expectadores que tinham num cartaz orientação de como atuar naquela obra de arte: “há 72 objetos sobre a mesa que podem ser usados em mim conforme desejado. Eu sou o objeto”. Como noticiou a imprensa, “seis horas depois suas roupas haviam sido rasgadas e a arma tinha sido apontada para sua cabeça”. Assim ela apenas radicalizou outra performance quando, certa feita, passou 12 dias na Sean Kelly Galery totalmente exposta à curiosidade do público enquanto passantes, bêbados, operários curiosos viam todas as suas intimidades.
Esses são apenas alguns dos exemplos das dezenas de obras de “arte contemporânea” que têm seu estatuto de valor estético questionado por Affonso Romano de Sant'Anna no seu ousado livro Desconstruir Duchamp: arte na hora da revisão (editora Vieira & Lent, 2003). A partir da grande receptividade de um artigo publicado no jornal O Globo, no ano de 2001, denominado “Arte – um equívoco alarmante”, Sant'Anna acabou escrevendo mais 50 artigos. Eles são saborosos de se ler, instigantes na suas argumentações e ousados em suas proposições sobre os rumos da arte atual.
O livro dá o diagnóstico: a arte meteu-se num grande imbróglio. Os culpados: Duchamp e uma legião de curadores, leiloeiros, marchands e galeristas que decidem o que é arte e o que tem valor enquanto tal. Pouco resta aos críticos, ensaístas e historiadores da arte, condenados ao silêncio e ao temor da contestação à ordem artística vigente.
E ao artista resta alguma decisão? Quantos artistas não estão traumatizados, paralisados, congelados de medo diante do desejo de pintar figuras, como se os talibãs os fossem pegar em flagrante?, questiona Sant'Anna.
Mas, diz o autor, é preciso começar a contestar os próprios contestadores que, de um momento para outro, se petrificaram, se academizaram, se midiatizaram. Segundo seu diagnóstico, Duchamp deu um xeque-mate na arte há quase 100 anos e, desde então, ela ficou paralisada, prisioneira de sua própria revolução. E é Duchamp, pai da arte conceitual, e seus correligionários, os alvos principais dos ataques de Sant'Anna.
Afinal, não foi o próprio abusado Duchamp que dizia que seus seguidores haviam se tornaram vítimas de sua própria artimanha? “Joguei o urinol na cara deles como desafio e agora eles o admiram como um objeto de arte por sua beleza estética”.
“Embora o urinol tivesse desaparecido daquela exposição em Nova York, para onde Duchamp o enviou, ele começou a produzir cópias de seu urinol, a assiná-las para diversos museus para inseri-las no sistema artístico que condenara. Só em 1964 autenticou oito outras peças semelhantes, caindo na repetição que tantas vezes condenou. O anti-artista virou artista, a anti-arte, arte. O feitiço virou contra o feiticeiro. O contestador sucumbiu à cultura do mercado. E, no final da década de 90, a Tate Gallery de Londres comprou uma das cópias por quase um milhão de libras”, diz Sant ´Anna.
Pensar Duchamp através de suas próprias problematizações é desconstruir o desconstrutor. O livro se encarrega dessa tarefa blasfema com muita propriedade.
O urinol nos revelou que todos podemos ser artistas, basta termos a atitude de escolher um objeto qualquer e denominá-lo arte. O trabalho braçal teve dessa forma seus dias contados (técnica para quê?). O que interessa é a receita, não o bolo. Interessa o conceito, não o fazer. Dessa forma tudo pode ser arte... se assim o quisermos.
Se tudo é arte, nada é arte. Se uma gosma espermática ou um bule velho de café podem ser arte, qualquer leigo, sem o mínimo talento para a arte, poderia se perguntar: por que não eu também? Calma lá, tudo bem que democratizamos o “talento”, mas nem todos podem ser chamados de “artista”. Apenas os que o sistema artístico, composto por leiloeiros, curadores, galeristas e divulgadores (não críticos de arte), amparados numa estratégia de marketing que renderá alguns bons dólares, decidir chamar de artista será artista. Estes produzirão o que veremos nas Bienais distribuídas pelo mundo afora.
Interrogações: quem nunca sentiu uma enorme insatisfação, um tremendo vazio, diante de uma coleção de obras “contemporâneas” expostas nas mais famosas galerias e bienais de arte do mundo? Quem nunca sentiu que ali não havia grande coisa para se apreciar ou que desse o que pensar? Quem é que após estar diante da presença arrebatadora da pintura de um Edward Munch, de um Francis Bacon (participantes anos atrás da Bienal de São Paulo na seção “histórica”), quem é que num momento desse não percorreu a Bienal com tremendo desgosto pelo que era ali exposto como o melhor da criação “contemporânea” (arte é contemporânea? Goya e Rembrandt são apenas o passado, ou o presente e o futuro também?). Não seria, pensamos, uma covardia expor esses gigantes diante das míseras expressões artísticas contemporâneas? Aliás, a curadora da próxima Bienal de São Paulo já se encarregou de desfazer essa humilhação, retirando o “núcleo histórico” da próxima exposição.
Texto extraído de: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=1709

E agora ouçam Bienal, de Zeca Baleiro  e José Ramalho,  cantada por Zeca Baleiro.  Até que ponto chegou esta merda de arte contemporrânea? Zeca Baleiro responde (dica de Júlio Machado, poeta atento)



Sumário de Acroarte
Isso é Arte?
Botticelli-Uma Deusa Vestida
Botticelli-A Virgem Maria Despida
Botticelli-Suas Mulheres
Delacroix-Um Quadro em Prosa
Vênus ao Espelho
As Três Graças
Flora-Deusa das Flores

10 comentários:

Jullio Machado disse...

Arte pode ser qualquer coisa.Mas qualquer coisa não é uma arte.
Em suma, arte é o belo em si, o que provoca determinada emoções,e, não coisas literalmente nauseabundas.
Abraços!

Jullio Machado disse...

Saudações d'alma, meu amigo.
Você que admira arte, lhe indico esse blog abaixo:
:http://taislc.blogspot.com/

Abraços!

Jullio Machado disse...

Meu amigo,
Aproveitando o embalo mando essa letra, abaixo, sensacional sobre arte.



Compositor: Zeca Baleiro / Zé Ramalho


Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta

Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta

Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"

Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno

Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana

Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana

Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina

Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria

Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria

Luis Alfredo Moutinho da Costa disse...

Júlio.
1) Onde é que você achou essa jóia de parceria, Baleiro-Ramalho? Não sei como eu não conhecia? Tremenda composição, no estilo de Raul Seixas. Um crítica perfeita à merda da arte contemporrânea!
2) Super, o site da amante de arte gaúcha (Tais). Muito instrutivo. Depois falo mais dele.
Abs artísticos
Luis Alfredo

Luis Alfredo Moutinho da Costa disse...

Júlio,

Postei o vídeo do Zeca Baleiro dando-lhe crédito pela lembrança.
Abs rotineiros
Luis Alfredo

Jullio Machado disse...

Fico feliz que o amigo tenha gostado das dicas.
Valeu, Luis Alfredo!

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá alfredo, maravilhosa esta postagem, deixei no meu espaço, abaixo do seu comentário, a complementação da matéria; dou todo o espaço que tenho a comentários que tenham este valor. Muito obrigada. Já estou seguindo seu blog, o qual retornarei sempre.

Está aqui também o Julio Machado, deixo um abraço e agradeço, também.

abraços
Tais Luso

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, amigo: Passando para lhe desejar Boas Festas e um ano cheio de novas ideias e realizações!

Grande abraço!
Tais Luso

Annie disse...

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Josú Barroso disse...

Boa pergunta!